
Quando fui convidado por Carlos Turdera a participar da Associação dos Correspondentes Estrangeiros, não sabia muito bem com o que iria me encontrar. Já tinha feito parte de clubes de carros, ou de times esportivos, mas nunca alguma associação com colegas de profissão. Eu acabava de finalizar meu contrato com o veículo em que trabalhava, e estava à procura de novas experiências no mercado.
A primeira coisa que me chamou a atenção do prédio da rua Boa Vista foi, mesmo, a boa vista. Um terminal de ónibus amarelos que pareciam abelhas; um prédio lúgubre e enorme de muitos andares sem janelas, que parecía ser o ambiente de uma novela de Stephen King; os trolebuses, que desde o 15 andar pareciam brinquedos de criança; e uma ténue música do Rod Stewart que vinha de fora, que sempre era a mesma e passava uma e outra vez.
Falando sobre o escritório, a antiga sede da ACE bem poderia ter sido a inveja de qualquer solteiro que sonhou com um loft. A falta de paredes intermediárias fazia com que o espaço parecesse bem maior. Qualquer Usain Bolt da vida poderia ter treinado no escritório, mas claro, esquivando umas poltronas verdes que estavam sempre num local diferente.
Com todo este ambiente, era impossível não trabalhar bem. Como freelancer, a questão da concentração é muito importante, e disso depende muito fazer um trabalho bom ou um trabalho ruim.
Passaram dirigentes, convidados importantes, uma eleição, assembleias… Tudo isto acho que hierarquizou nossa associação, e também possibilitou que novos colegas se aproximassem.
Porém, uma mistura de crise, junto com falta de palavra, de vontade e planejamento por parte do Governo do Estado de São Paulo, nos deixou sem aquele valioso espaço. Um lugar onde conheci um admirável e muito competente grupo de jornalistas de muitas nacionalidades, que tiveram que deixar o local às pressas como se fossem usurpadores.
Chamo à reflexão aos responsáveis para evitar esses maus tratos. A vida da ACE continuará, talvez num outro escritório, e isto não será mais do que uma má lembrança. Minhas lembranças do antigo escritório da ACE serão boas. Essas resistem qualquer despejo.
Por Esteban Nieto
Foto: Katy Sherriff