
Por Katy Sherriff (*)
A presidenta da República do Brasil Dilma Rousseff visitou na sexta-feira, 8 de abril, o Parque Olímpico juntos com o prefeito Eduardo Paes do Rio de Janeiro. Um momento extremamente interessante para a imprensa estrangeira nas vésperas das Olimpíadas. Mas, como na maioria desses eventos com presença do máximo poder democrático, a imprensa só foi informada por e-mail no final da tarde do dia anterior.
Surpreendente é que os membros das associações de correspondentes estrangeiros em São Paulo e no Rio já foram convidados para visitar o Parque Olímpico só quatro dias antes dessa visita tão importante. Só um porta-voz técnico falou com os jornalistas no local. A assessora enfatizou que não poderiam ser feitas perguntas críticas sobre a atual crise política e econômica porque ‘não cabe a esse porta-voz responder’. Ninguém da prefeitura no Rio de Janeiro nos avisou que iria ter o prefeito e a presidenta final da mesma semana no mesmo local a quem deveríamos fazer essas perguntas.
O ‘convite aberto’ para acompanhar a visita do prefeito com a presidenta em cima da hora reafirma a ignorância perpétua com que o poder executivo brasileiro vem tratando grande parte da imprensa estrangeira presente no país. As associações de correspondentes da imprensa estrangeira do Rio de Janeiro (ACIE) juntos com São Paulo (ACE) tentaram organizar essa visita há muitos meses.
No nível federal, a ACE e ACIE estão tentando organizar entrevistas coletivas com a chefe do Estado, Dilma Rousseff, e o seu antecessor Luiz Inacio Lula da Silva desde o ano passado. Recentemente lemos na imprensa brasileira a respeito de ‘encontros exclusivos’ com ‘a imprensa estrangeira’. Ninguém relatou da ‘seleção VIP’: só correspondentes dos maiores poderes midiáticos foram convidados às coletivas. As associações oficiais da imprensa internacional em São Paulo e do Rio de Janeiro não foram avisadas.
Essas associações são formadas na maior parte por correspondentes autônomos que residem no Brasil por escolha própria. Profissionais vindo de todos os cantos do mundo trabalham para jornais, rádios e televisões nacionais nos seus países de origem. Infelizmente o trabalho dessas migalhas jornalísticas não é valorizado pelo poder executivo brasileiro. Prefere dar a cereja do bolo aos veículos internacionais com mais peso – e ignora o resto.
É fundamental para uma democracia madura manter o diálogo com toda a imprensa estrangeira, sobretudo nesses tempos conturbados em que fica difícil explicar o que está acontecendo no país. Já recebi vários e-mails de brasileiros morando na Holanda preocupados com as notícias sobre o Brasil na imprensa holandesa. Sentem falta da perspectiva do governo. Mas como eu vou levar a sério um poder executivo que não presta atenção para mim, uma das pequenas vira-latas jornalísticas internacionais?
Não é anticonstitucional essa seleção VIP. Claro que o poder executivo pode fazer isso. Mas uma seleção persistente da imprensa é ruim para qualquer democracia. Por isso, Vossa Excelência presidenta Dilma Rousseff, espero receber uma ligação da sua assessoria de imprensa em breve para confirmar um novo encontro, essa vez com toda imprensa internacional. Não esqueça dos meus colegas por favor.
(*) Correspondente de Business News Radio, VRT, VPRO, De Tijd e Het Financieele Dagblad. Mora no Brasil desde 2012.